quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Filha de Andrea, Andreinha é…


Pode parecer exagero, mas não há como negar a proximidade da atriz Luiza Lorenz com a diretora Andrea Ojeda no espetáculo “Evocações”. Não à toa, as duas, em cena se parecem muito. O programa intensivo de formação-criação Periplo, Compañia Teatral, com certeza influenciou diretamente.

No palco, cada expressão, cada fala, cada sentimento, possui uma ação proporcional. Um longo exercício muito cobrado pela diretora argentina. Pode parecer impressão, mas as ações e olhares de Luiza a deixam tão parecida com Andrea que os menos atentos podem confundir uma e outra no palco (exceto pela língua falada por elas).

A cenografia simples, revela uma caixa no centro do palco, cercada por pétalas de flores e folhas, e três figurinos ao fundo, mantidos eretos por cordas, próprios para a entrada rápida de Luiza em cada personagem, seja ele o artista, o emparedado ou o louco. Uma colaboração com o dedo claro de Julieta Fassone, também da Periplo.

Na caixa, uma surpresa que se revela aos poucos. Trata-se do “corpo” do homenageado: Cruz e Souza. As entradas e saídas de cena desse corpo, surpreendem e, a cada novo detalhe é possível se perguntar: o que mais sairá daí? Os exageros no emparedado são cabíveis e o boneco, todo branco, faz o papel de coronel e escravocrata. Cabe a Luiza, a transformação em novo personagem ao ingressar no figurino, e mais difícil talvez seja retornar à personagem inicial que conta um pouco sobre a história do poeta que completaria 151 anos se ainda estivesse vivo.

O maior poeta catarinense, de rebuscadas falas e um dos maiores da poesia simbolista universal, não poderia pedir mais. Talvez pudesse sim pedir menos. O começo se mostra um tanto quanto cansativo até chegar à história do escravocrata. Apesar de ser classificação etária livre (aparentemente, pois nenhum material de divulgação traz tal informação), o filosofar e rebuscar das palavras assusta aos não-iniciados em Cruz e Souza.

Assusta tanto ao ponto de um pai falar baixinho com a mãe na segunda fileira: “Pergunta se ele quer ir embora já ou vai querer ficar até o fim”. Ele, neste caso, é o filho que devia possuir apenas uma década de vida. O filho, também aos sussurros, não deixa por menos: “Quero ficar até o fim”. O pequeno mostra um interesse que poucos adultos têm. De entrar nesse mundo poético maluco e de tão poucos adeptos.

Os focos de iluminação também possuem pontos certeiros. Resta ao iluminador não se confundir diante da mesa. Mas convenhamos que, para uma sétima apresentação de um espetáculo cuja montagem durou quase um ano inteiro, não há muito do que reclamar. Com exceção das cadeiras de madeira dispostas ao público, mas isso já é outra história…

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