A
música dita o ritmo da peça. No início, o público encontra todo o elenco em
cena, com roupas brancas, e tocando algum instrumento. Ao saírem de cena, por
trás dos tecidos que deixam à mostra a silhueta dos atores e figurinos a serem
usados, é que começa uma verdadeira ciranda de personagens.
Uma
máscara para cada personagem vivida pelos cinco atores. Essa ciranda se finda e
a “história” se inicia. São fatos da vida cotidiana expressos de forma simples,
instantes da vida, como relata a própria companhia na sinopse do espetáculo
integrante do projeto Palco Giratório, do Sesc. A apresentação no Bandeirantes,
segunda-feira à noite, reuniu cerca de 100 espectadores, que aplaudiram de pé,
mesmo alguns mais preocupados em conversar com o colega do lado que prestar
atenção à peça.
Inspirado
no Topeng – teatro/dança dos rituais de Bali, a peça brinca com diversas
culturas e técnicas teatrais, como a imobilidade e a plasticidade do corpo
cênico. As pesquisas feitas pela diretora Fabianna de Mello e Souza, que também
atua como atriz, misturam-se de uma forma sem agredir uma à outra e se encaixa
numa harmonia excepcional. Apesar de muitos, a variedade de instrumentos
asiáticos como o gamelão e brasileiros e africanos (conga, alfaia, pandeiro e
marimbas) é fundamental para o público logo caracterizar cada personagem com um
ritmo próprio. A musicista mineira Samantha Renó chega a interagir com as
personagens. Nada mais justo por estar no palco. Mas a repetição às vezes pode
ser cruel. Na primeira vez em que ela acerta a mão da personagem que se apoia
num dos instrumentos e na segunda vez, onde apenas ameaça, a cena fica singela
e engraçada. Na terceira vez se mostra como piada pronta, e não funciona.
Fabianna
possui na bagagem nove anos de experiência no Théâtre du Soleil. Numa das peças
em que participou se apropriou da técnica de tecidos que imitam o mar para
fazer o rio na cena final de Instantâneos, quando duas personagens finalmente
ficam juntas após algumas confusões pelo caminho. Não à toa, a carioca Cia dos
Bondrés, fundada em 2007, foi contemplada com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam
Muniz, do qual resultou Instantâneos.
O
uso das máscaras vem desde o início do teatro grego, mas com o tempo elas se
modificaram, criaram rostos e conseguem transportar o público. Exceto no velho
interpretado por Fabianna no início e final do espetáculo, o qual brinca com
borboletas presas a varas manipuladas pelos atores, os olhos de quem está no
palco ficam sempre à mostra. Alfo fundamental para conseguir transmitir os
sentimentos vividos pela personagem ao público, mesmo com o restante do rosto
coberto. Se uma máscara é mais voltada ao horripilante, os olhos mais
destreinados conseguem ver singeleza e doçura graças a esse recurso.
O
menino que chuta uma bola imaginária até acertá-la em personagem de trás do
palco que surge com uma bola concreta nas mãos, mexe com o pensamento e a
atenção de quem acompanha tudo de perto e fica à espera do que vem a seguir. A
cena do casal de velhinhos também se mostra de uma precisão na imobilidade dos
movimentos e plasticidade do corpo cênico que não se consegue do dia para a
noite. Felizes daqueles que acompanharam a peça e mais felizes de quem pode
desfrutar um pouco e aprender certas técnicas de treinamento na oficina
ministrada por Fabianna no dia anterior.