sexta-feira, 23 de março de 2012

Finfo não chama atenção para si

Segundo a professora da USP Ana Maria Amaral, teatro de animação trata do inanimado, por isso poderia ser também chamado de teatro inanimado. Teatro do Inanimado é um teatro onde o foco de atenção é dirigido para um objeto inanimado e não para o ser vivo/ator. Objeto é todo e qualquer matéria inerte. Em cena representa o homem, ideias abstratas, conceitos.

“Uma canção para Finfo”, da Cia Caravana do Sonhar, de São Bento do Sul, propõe um jogo interessante. Não tem a pretensão de ser teatro inanimado (ou de animação, como preferirem), mas trabalha com bonecos. As formas inanimadas que ganham vida pelas mãos dos atores Alessandra Nascimento e Rafael Padawan são simples, não possuem rostos específicos e nem precisam, pois o foco não são eles exatamente, mas a história em si.

A proposta da companhia sequer se propõe a uma peça teatral propriamente dita, mas sim ao universo da contação de histórias. A mescla de linguagens brinca com esse jogo e deixa o espetáculo atrativo e consegue prender a atração do público alvo: as crianças. A arte de contar histórias é uma prática milenar que teve início desde os primórdios da humanidade por meio da tradição oral, sendo intensificadas na Grécia Antiga e no Império Árabe. Essa arte amplia o universo literário, desperta o interesse pela leitura e estimula a imaginação pela construção de imagens interiores. Apesar de um pouco crus pelo espetáculo ser novo, Alessandra e Padawan dominam a contação de histórias com o uso de instrumentos musicais e atuações características, ao incorporar as personagens mesmo sem os bonecos. Pela expressão e marcação afinada, fica claro quando os atores interpretam os contadores e quando estão na pele das personagens. Mesmo com simplicidade, os bonecos também chamam a atenção, em especial Finfo com o cabelo arrepiado após tomar um choque elétrico. Único peso desfavorável na história é o excesso de problemas que fazem a família ficar feliz… mas nem tanto. Ainda assim, a crítica intrínseca sobre o valor da família diante de um cotidiano corrido e corroído, precisa ser respeitada.

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